Por que usar tecnologias de ensino nas aulas de PFOL?

Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação devem ser usadas no ensino línguas? A professora Luhema Ueti responde com exemplos práticos!

Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação devem ser usadas no ensino línguas? A professora Luhema Ueti responde com exemplos práticos!

Com a pandemia de Covid-19 e o ERE (Ensino Remoto Emergencial), todos tiveram que migrar de um dia para o outro para as aulas virtuais/online. Num primeiro momento, o uso de muitas TDICs (tecnologias digitais de informação e comunicação) assustou os professores, mas agora esse uso virou algo habitual.

Todo mundo deseja ansiosamente que tudo isso passe para que as aulas presenciais voltem a ser feitas, algumas até já voltaram. E o que vamos fazer com todo o conhecimento de TDICs que construímos? Voltaremos para a aula livro-lousa ou continuaremos utilizando as TDICs mesmo nas aulas presenciais?

Para que as aulas virtuais ocorram, é necessário o uso de TDICs,  espera-se que depois, com a volta das aulas presenciais, não se utilize apenas algumas, mas continue-se a utilizar outras. O melhor das aulas presenciais é a interação com os alunos e professores e as TDICs podem auxiliar nessa interação. Veja algumas vantagens do uso das TDICs nas aulas de línguas em geral:

  • Aumentar a motivação dos alunos através de atividades divertidas, em grupo e interativas;
  • Aumentar o interesse em aprender com atividades dinâmicas e situações reais;
  • Colocar o aluno em contato com a língua-alvo através do contato com as TDICs;
  • Praticar as quatro habilidades ao realizar atividades utilizando as TDICs;
  • Usar as TDICs como tecnologias para o aprendizado e não só como tecnologias de informação e comunicação.

Há muitos outros benefícios em continuar incluindo as TDICs nas aulas, mesmo que elas sejam presenciais. As TDICs podem ajudar na elaboração de atividades dinâmicas e divertidas como em jogos e passatempos. Elas podem ajudar professores a trabalharem com metodologias ativas,e também, trazer a realidade dos alunos para dentro da sala de aula. Não é mais necessário proibir o uso do smartphone durante a aula. É possível incluir o uso dele para a realização de atividades e tarefas na língua-alvo.

As TDICs sempre estiveram presentes nas aulas de línguas. Quem se lembra de usar fitas cassetes ou CDs para ouvir ou assistir a algum vídeo na língua em que estava estudando/ensinando? Agora, é só ir ao Youtube e encontrará uma infinidade de vídeos e músicas. As tecnologias estão apenas dando lugar a novas e, a cada dia, temos outras mais que podem nos ajudar a desenvolver diferentes habilidades.

Pensando nas aulas de PFOL, o que pode ser feito com algumas TDICs?

  • Utilizar os Documentos do Google para elaborar um texto colaborativo que pode ser a criação de uma história ou a de um dicionário da turma;
  • Utilizar o WhatsApp para criar diálogos com trocas de mensagens entre dois alunos;
  • Os alunos podem produzir um vídeo sobre determinado conteúdo;
  • Os alunos podem gravar um podcast sobre um determinado conteúdo.

Essas são algumas das possíveis formas de utilizar as TDICs tanto nas aulas virtuais quanto nas presenciais.

Quais outros modos de utilizar as TDICs nas aulas de PFOL que você imaginou?

A professora Vera Lucia Menezes de Oliveira e Paiva organizou dois materiais com uma gama enorme de ferramentas e sugestões de atividades para utilizar as TDICs em aulas de língua. Se quiser conhecer novas ferramentas para acrescentar em suas aulas virtuais ou presenciais, dê uma olhada nos livros.

Acesse os arquivos aqui:

https://www.dropbox.com/s/5soe0qiny6953me/MAO_NA_MASSA.pdf?dl=0%20

https://www2.ufmg.br/prograd/content/download/29222/195666/file/M2.pdf

 

A professora Luhema Ueti é mestre em Língua Portuguesa e contribui com este site sempre que pode!

Sophya

Nessa coluna a professora Elza Gabaldi traz uma história de sala de aula sobre o desafio e crescimento de uma estudante de PFOL.

Sophya era este seu nome. Estava parada no corredor em frente à porta da sala de aula onde eu estava com outros alunos que aprendiam português. Aquela jovenzinha de 13 ou 14 anos, apertava fortemente contra o peito uma pasta com cadernos e coisas de escola, onde repousava o queixo numa tentativa de esconder seu nervosismo.

A mãe chegou, entrou na sala e me explicou que ela tinha chegado da China há dois dias e iria iniciar suas aulas de português. Percebi que uma espécie de febre a invadia diante do mundo novo que teria de enfrentar. Os olhos tinham um brilho extra, daqueles que mostram o medo do que está por vir, juntado à timidez natural de tantas meninas chinesas que conheci.

Indiquei a carteira onde ela poderia se sentar, o que ela obedeceu imediatamente como quem precisa se apoiar em algo para se sentir mais seguro. Nada mais pude oferecer que meu sorriso e uma folha com o alfabeto em letras bastão para que ela copiasse. Era tudo o que eu podia fazer naquele momento.

Ela continuava assustada, mas como a cultura chinesa prima pela cópia, ela foi relaxando e arriscava um olhar do canto de olho para observar como eu reagiria ao conferir como ela estava copiando.

O ano transcorreu tão rapidamente quanto seu desenvolvimento. Ela recebeu ajuda e carinho de outros professores e respondeu prontamente a todos os estímulos. No fim do ano prestou uma prova para ingressar no ensino formal. Foi aprovada. Estudava de manhã no colégio e à tarde no curso  de reforço devido sua dificuldade com as disciplinas da área de humanidades: nunca ouvira falar em Grécia antiga, não sabia que existia. Os livros de literatura adotados não foram lidos. A distância de um texto em mandarim – com caracteres –  para um texto literário em língua portuguesa exige muito mais do que conhecer letras,  palavras,  frases e até mesmo parágrafos.

Vi naquela jovenzinha que se preparava para a vida, um modelo de ser humano dedicado, obediente e educado que trazia naqueles olhos de traços orientais mais interrogações do que  os meus ocidentais,  poderiam responder. Olhos “glandes” como os alunos chineses me diziam. Acho que naqueles olhos rasgados e pequenos tinham tantas Chinas quantos tantos Brasis havia nos meus.

Sophya seguiu por aqueles longos e antigos corredores do Colégio com a desenvoltura de quem conquista algo grandioso. Aquela segurança de se sentir pertencente a um mundo que já não era tão distante e estranho quanto foi em sua chegada.  Já manifestava sua dificuldade de entender História. “Era muito difícil, dizia”.

Um dia, uma mãe chinesa entra desesperada em minha sala de aula e falou muitas coisas que eu não podia entender. Ela falava em mandarim ou algum dialeto chinês. Eu precisava de alguém para traduzir a aflição daquela mãe para eu poder ajudar em alguma coisa. E Sophya estava lá e traduziu a preocupação e a angústia daquela mãe para o português: o filho não fora  para casa, ficou no colégio e não avisou a mãe.

Foi assim que Sophya se mostrou tão completa, tão chinesa e tão brasileira, estando apenas há um ano no Brasil. A Sofia tão discutida desde a Grécia Antiga se fez presente ali, em minha frente, naquele corpo e nome de menina, revelando-se um grande ser humano.

Elza Gabaldi é professora de português para nativos e estrangeiros. Idealizadora deste site e amante de leitura. Escreve nesse espaço sempre que pode!