Tobias

A professora Elza Gabaldi escreve uma crônica sobre a vida e como gestos simples podem transformar um ser, além de trazer alegria!

Tobias vivia abandonado. Feio, sujo, magro, mal nutrido e perambulava pelas ruas. Comia o que encontrava jogado no chão, só bebia água da chuva ou aquela que escorre ao lado das calçadas. Cansado de vagar de um lugar a outro, resolveu se fixar no espaço aberto de um posto de gasolina situado numa esquina, um ponto comercial muito importante. Por ali passam muitos carros todos os dias. Às vezes, os carros são tantos que há filas para abastecer.

Os funcionários do posto, vendo aquele ser tão maltratado, resolveram cuidar dele: passaram a alimentá-lo. Afinal, sentir fome é um grande sofrimento e dói muito em qualquer um e, dividir comida é dividir vida.

Sempre que vou pegar estrada, abasteço no posto em que vive o Tobias. Os funcionários do posto, amáveis como sempre revisam o óleo, a água, calibram os pneus e lavam os vidros do meu carro.

Saí no domingo de manhã em destino ao interior para visitar minha irmã. Parei no posto para abastecer e seguir viagem. Curiosamente, não vi o Tobias por ali. Achei estranho.  Perguntei a um dos funcionários onde ele estava, pois eu não o via há alguns dias. O rapaz me respondeu que ele tinha ido ver os preços da concorrência. Rimos muito. E o funcionário acrescentou: ele é o gerente da parte de manhã; à tarde, o gerente é o Santos. Rimos muito outra vez.

O funcionário do posto terminou o trabalho, eu paguei minha conta e dei uma caixinha para ele. Ele guardou o dinheiro da caixinha numa caixa que funciona como um cofre. No início de cada mês, a soma alcançada é dividida por igual entre os funcionários. Um dinheirinho extra sempre ajuda. Uma pena não ter visto o Tobias naquele dia.

Passei outro dia pelo local e o vi alegre e fogoso. Ele finge não se importar com nada, mas  sabe tudo o que acontece ao seu redor. Já não é magro, nem gordo. Mantém a elegância. Seus pelos agora têm vida e ele também. De vez em quando ele resolve latir para um carro ou outro que passa por ali. Mas é só para fazer média. Ele não ataca ninguém. Precisa honrar a raça e por isso se expressa como cachorro que é dando uns latidos de vez em quando.

O Tobias teve sorte. Aqueles funcionários não são apenas bons para ele. São bons também para os clientes. Eles são prestativos, simpáticos, eficientes e trabalham duro todos os dias para ganhar a vida dignamente.

O Tobias continua por lá. Participa indiretamente de tudo, menos da caixinha. Desconhece o que é caixinha, mas contribui com ela quando se mostra tão bem cuidado.   Os funcionários  daquele posto de gasolina puseram fim àquela vida de cão que Tobias levava. Ele é um cão sortudo.

Elza Gabaldi é professora de português há mais de 30 anos e escreve crônica sobre a vida e tua que lhe vier à cabeça.

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