Sou aquele que antecede a primavera

Quando eu estava verde, cheio de folhas cobrindo meus galhos, poucas pessoas me notavam. Pudera, elas passavam apressadas, com roupas de frio, ainda que não fizesse tanto frio assim, tem sempre alguém que usa botas. Incrível essa gente.

Ipê em São Paulo, foto de Elza Gabaldi

Eu me sentia um pouco mal, já que não recebia quase nenhuma atenção. Sempre há que note as folhas verdes das árvores, mas não é todo mundo que tem esta sensibilidade. Dói não ser notado, mas tudo bem. Fazer o quê? Todo mundo diz que está apressado e não tem tempo para observar a natureza.

Então eu mudei da cor verde para cores mais chamativas. Estou repleto de flores. As pessoas passam, olham para mim e sorriem. Param para tirar fotos, comentam com os amigos e nem se importam que minhas flores caiam e cubram o chão. Pudera! Eu apareci: sou amarelo, rosa, branco, roxo com variações que vão do mais claro ao mais escuro.

Eu me destaco nas ruas das cidades, nos campos entre árvores, pastos onde o gado come e também entre outros tipos de vegetação. Mas só apareço nos meses que vão de junho a outubro. Ou seja, na estação denominada Inverno.

Nesta época do ano, não ocorrem muitas chuvas no Brasil. Chove muito só quando dá uma loucurinha no tempo e ele resolve dar um susto nas pessoas de algumas regiões, despejando uma quantidade de água que ninguém esperava nesta época.

Mas o tempo já tem fama de louco faz um bom tempo. Eu aprendi que preciso de água para me manter e florir. Como não sou bobo, solto todas as minhas folhas, solto todinhas, não fica nenhuma. Sinto pena de me desfazer delas, mas como é por pouco tempo, no máximo três meses, acabo me conformando logo porque, depois da florada, com a chegada de mais chuvas, elas renascem em mim. Aí passaremos bom tempo juntos, até o próximo ano, antes de chegar a primavera.

Sou do gênero Tabebuia, mas pouca gente sabe. Esta palavra vem da língua tupi e significa árvore de casca grossa. Deixe-me explicar, não sou casca grossa no sentido de grosseiro, sem educação. Não! Casca grossa no sentido literal, pois tenho uma casca grossa, isto é, casca áspera.

Eu sou daqueles que anunciam a próxima estação com minhas flores. Acho bom porque assim apareço mais. Confesso que tenho uma certa vaidade. Não há muitas flores para concorrer comigo. Adoro aparecer e causar uma certa inquietação. Algumas pessoas chegam a dizer: Como pode ter tantas flores, se nem é primavera?

Elas têm razão. Eu sou aquele que antecede a primavera. Para um bom observador, minhas flores bastam. Ups! Ia me esquecendo. Meu nome popular é ipê. Posso ser branco, rosa, amarelo ou roxo. Observem por onde passam e me encontrarão por lá.

Desculpem minha vaidade. Eu apenas estou avisando que logo chegará a primavera, estação das flores. Aí ficarei quietinho no meu canto outra vez. Fui!

Quer saber mais sobre o ipê? Conheça aqui!

Elza Gabaldi é professora de português para nativos e estrangeiros há 30 anos. Também leciona espanhol e escreve neste espaço aos sábados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.