Morando no exterior, tive a oportunidade de trabalhar com alguns professores formados em Letras, nenhum com mestrado nesta área. Trabalhei com muitos outros que exerciam a profissão de professores apenas por serem falantes de Português. Coordenando cursos de Português para estrangeiros estive em contato com professores que lecionavam porque eram falantes de mandarim. Eles a usavam como língua de acolhimento com os chineses que chegavam ao colégio. Aos poucos, iam inserindo os estudantes no uso da língua portuguesa. Também pude neste período, acompanhar vários estagiários se embrenhando na profissão, além de pedagogas, mestres e doutores que se dedicavam ao ofício de ensinar. Determinar quem é melhor apenas pela formação acadêmica pode não ser justo, já que anos de estudos a mais fazem muita diferença. Por outro lado, há aqueles que, mesmo sem tantos títulos, conseguem ser excelentes professores.
No exterior, as escolas de línguas se valem dos falantes de Português para dar aulas devido a escassez de professores formados. Normalmente, os professores com maior capacitação vão para as universidades, onde desenvolvem pesquisas. Já os menos capacitados ficam nas escolas de línguas e trabalham com cursos rápidos.
Quando se trata de elaborar planos de aula, de traçar novos projetos ou cursos para as escolas de língua, são os formados na área que se responsabilizam e tomam frente. E, neste ponto fica muito claro que há distinção entre os formados e os não formados na área: os formados elaboram os projetos; os apenas falantes os executam e têm maior carência material de apoio como apostilas, livros, vídeos, etc. Já o professor formado na área consegue, a partir dos materiais de apoio, agregar outros novos conhecimentos, ampliando os conteúdos e temas tratados, haja vista ser um conhecedor das entranhas da língua que ensina.
Quando os estudantes estão nos níveis A1 e A2 ou até mesmo B1, os professores falantes de Português atuam muito bem. Eles, normalmente, são muito comunicativos e dinâmicos, favorecendo o aprendizado básico da comunicação. Contudo, à medida que se avança nos níveis, são os professores formados em Letras que mais se destacam.
Como podemos observar, ser “muito bom” depende muito do projeto de ensino da Escola, de seu planejamento, de como ela vai organizar seu quadro de professores nos cursos que oferece. Depende também do estudante: quais são seus objetivos de aprendizagem. Se o estudante quer cursar apenas um curso que o ensine a se comunicar basicamente, ele nada perderá em estudar apenas com professores falantes. Mas se sua intenção é se aprofundar nos estudos, ter maior domínio da língua para usá-la fluentemente em situações diferentes, deverá procurar um professor com maior conhecimento linguístico; se ele pretende realizar exames de proficiência, deve exigir não apenas um professor formado em Letras, mas aquele que também possua um vasto e conhecimento cultural, já que tais exames avaliam o domínio das quatro habilidades, falar, ler, escrever e ouvir (compreendendo) dentro de um quadro cultural.
Bons profissionais são aqueles que se empenham e desenvolvem seus alunos e a si mesmos. Entre os de “cá” e os de “lá”, tem sempre aqueles especiais que não estão nas classificações, mas que seus alunos sabem o quanto são bons. E eles também sabem.
Elza Gabaldi é professora de português para nativos e estrangeiros há 30 anos.