Foi-se o tempo em que os estudantes carregavam pesados dicionários para a sala de aula. Agora ele está dentro do celular. Ele passou a segundo plano depois que o tradutor entrou no caminho. A tecnologia tem ajudado muito, não há dúvida, mas será que consultar o tradutor a toda hora ajuda no aprendizado de uma língua? Provavelmente sim. Valer-se dele a todo momento é suficiente? Provavelmente não.
Num mundo onde tudo parece estar pronto, em que num simples toque em uma tela encontramos rapidamente o que procuramos, parece que o dicionário já não satisfaz a expectativa do estudante. Ele deseja saber mais do que o significado da palavra. Ele quer frases, parágrafos e até textos inteiros. Entretanto, no processo de aprendizagem de uma língua, fica claro que não há equivalência entre a facilidade que o tradutor proporciona e o aprendizado esperado.
O simples ato de jogar uma palavra, frases ou parágrafos no tradutor e imediatamente entender o significado pode propiciar bem-estar e dar a sensação de que a rápida resolução do que era desconhecido, já pertence ao pesquisador. Contudo, na prática, verifica-se que aquela informação que chegou tão rápido, rápido também se vai, já que o estudante se depara com a mesma palavra na aula seguinte e não se recorda mais dela. E o pior é que este processo se repete várias vezes.
Não há saída fácil. Negar os recursos tecnológicos e as facilidades proporcionadas por eles não ajudam em nada. Ao contrário, são eles que amparam, ampliam a capacidade criativa, facilitam o trabalho, tornando-os tão próximos e práticos tanto para alunos como para professores.
Todavia, saber utilizar recursos tecnológicos não é garantia de aprendizado. É garantia de informação rápida. Aprender uma língua requer mais do que conhecer o significado de uma palavra ou frase. Aprender requer internalização das relações que as palavras estabelecem entre si, isto é, atribuir-lhes sentido. E neste quesito, até mesmo os algorítimos se atrapalham.
Então, que fazer com tantas opções disponíveis na internet e ensinar mais do que toda a parafernália tecnológica? Um dos recursos que sempre vale a pena recorrer está numa prática antiga: construir um pequeno dicionário referente um tema específico, trabalhado em cada aula.
Com três perguntas básicas, é possível oferecer mais do que simples traduções ou informações de significados. São elas:
1. “O que é?”; 2. “Como é?”; 3. “Para que serve?”
Estas perguntas podem ser respondidas pelos tradutores encontrado em tantos aparatos eletrônicos. A diferença ao se produzir um pequeno dicionário está em estimular o estudante a um fazer próprio, tirando-o do conforto de apenas olhar uma tela. Ao produzir o passo-a-passo de um pequeno dicionário os resultados na apreensão do que foi estudado é bem maior devido ser um processo mais lento. Sendo mais lento, ele propicia a reflexão, entendimento e memorização das informações, transformando-as em conhecimento.
Construir pequenos dicionários pode dar a impressão de estar fazendo o mesmo , de repetir o que já está pronto no Google. Mas na verdade, o que se está propiciando com este fazer é uma relação mais demorada com o que se estuda. Dessa forma, o estudante elimina a dependência do tradutor e acredita mais em si mesmo e em sua memória. Eliminando a dependência entre o usuário e o aparato eletrônico, ele buscará em sua mente o que se propôs a aprender, pois já transformou as informações em conhecimento. Assim, ele altera o processo de recorrer a uma memória externa e valer-se da interna, a sua memória. E a memória humana tem uma bateria bem mais longa do que as encontradas nos aparelhos eletrônicos.
Elza Gabaldi é professora de português para nativos e estrangeiros há 30 anos.