A professora Elza Gabaldi traz uma dica sobre pequenos dicionários e como pode ajudar na memorização de palavras e vocabulário.
Foi-se o tempo em que os estudantes carregavam pesados dicionários de papel para a sala de aula. Agora ele está no celular ou no tablet. Apesar de sua grande importância, ele passou a ser desvalorizado depois que o tradutor entrou no caminho. A tecnologia tem ajudado muito, não há dúvida, mas será que consultar o tradutor a toda hora ajuda no aprendizado de uma língua? Provavelmente sim. Recorrer ao tradutor a todo momento é suficiente? Provavelmente não.
Num mundo onde tudo parece estar pronto, em que num simples toque em uma tela se pode encontrar o que se quiser, parece que o dicionário já não satisfaz a expectativa do estudante. Ele deseja saber mais do que o significado da palavra. Ele quer frases, parágrafos e até textos inteiros traduzidos. Entretanto, no processo de aprendizagem de uma língua, fica claro que não há equivalência entre a facilidade que o tradutor proporciona e o aprendizado esperado.
O simples ato de jogar uma palavra, frases ou parágrafos no tradutor e imediatamente entender o significado pode propiciar bem-estar e dar a sensação de que houve a apreensão da palavra. Contudo, na prática, verifica-se que aquela informação que chegou tão rápido, rápido também se vai, já que o estudante se depara com a mesma palavra na aula seguinte ou em uma situação nova e não se recorda mais dela. Então, porque não alterar um pouco este fazer?
Não há saída fácil. Negar os recursos tecnológicos e as facilidades proporcionadas por eles não ajuda em nada. Ao contrário, são eles que amparam, ampliam a capacidade criativa, facilitam o trabalho, tornando-os tão próximos e práticos tanto para alunos como para professores.
Todavia, saber utilizar recursos tecnológicos não é garantia de aprendizado e sim de informação rápida. Aprender uma língua requer mais do que conhecer o significado de uma palavra ou frase. Aprender requer internalização das relações que as palavras estabelecem entre si. É preciso atribuir-lhes sentido. E neste quesito, até mesmo os algorítimos se atrapalham.
Então, que fazer com tantas opções disponíveis na internet? Como ensinar além do que a parafernália tecnológica oferece? Um dos recursos que sempre vale a pena recorrer está numa prática antiga: construir um pequeno dicionário referente um tema específico, relacionado ao tema tratado em aula.
Com três perguntas básicas, é possível construir um pequeno dicionário e oferecer mais do que simples traduções ou informações de significados:
- “O que é?” 2. “Como é?” 3. “Para que serve?”
Estas perguntas também podem ser respondidas pelos tradutores encontrados nos aparelhos eletrônicos, mas nunca será respondida da mesma maneira no cérebro humano. O cérebro requer um tempo para fixar a nova informação. Por isso, produzir pequenos dicionários diários resulta na melhor memorização das palavras e ampliação do vocabulário.
Ao produzir o passo-a-passo de um pequeno dicionário, os resultados na apreensão do que foi estudado é bem maior devido ser um processo mais lento. Sendo mais lento, ele propicia a reflexão, entendimento e memorização das informações, transformando-as em conhecimento.
Construir pequenos dicionários pode dar a impressão de estar fazendo o que já foi feito, de repetir o que já está pronto na internet. Contudo, o que se está propiciando com este fazer é uma relação mais demorada, de um fazer que não se vale apenas uma tela, já que na escrita, outros relações se estabelecem, incluindo a atenção. Dessa forma, o estudante elimina a dependência do tradutor e acredita mais em si mesmo, em sua memória.
Eliminando a dependência entre o usuário e o aparato eletrônico, ele buscará em sua memória o que se propôs a aprender. Assim, ele altera o processo de recorrer a uma memória externa e passa a usar a interna, a sua memória. E a memória humana tem uma bateria bem mais longa do que as encontradas nos aparelhos eletrônicos, além de o acompanhar por qualquer parte do mundo, estando ou não conectado à internet.
Elza Gabaldi é professora de português há mais de 30 anos e mestre, escreve nesse espaço sempre que pode!
A professora Elza Gabaldi traz uma dica sobre pequenos dicionários e como pode ajudar na memorização de palavras e vocabulário.