Agonia

A letra mais utilizada do alfabeto da língua portuguesa é a letra “a”. No dicionário Houaiss, os verbetes iniciados com a letra “a” ocupam 362 páginas. Entre a tantas palavras iniciadas com a letra “a” temos as que evocam sensações boas: ânimo, amigo, amizade, afinidade; outras evocam o outro extremo:  ansiedade, antipatia e agonia.

A agonia se revela em sofrimento, quer seja da alma, quer seja do corpo. Uma espécie de sofrimento agudo que atinge tanto o físico quanto a moral.

Quem nunca viu um animal agonizar? Ter de sacrificá-lo torna-se a pior agonia para quem é responsável pelo bichinho e que, apesar disso, precisa buscar um meio de não prolongar aquele sofrimento.

No âmbito social a agonia nos chega nos momentos em que nos damos conta da perversidade de alguns seres de nossa espécie. São tiranos que não se importam com a dor alheia e matam, estupram, castigam, humilham e maltratam outros seres humanos.

Nos últimos tempos a agonia se estabeleceu de forma coletiva no Brasil: a reversão de leis já estabelecidas em 2016 – a prisão em segunda instância- em que o criminoso deve ser preso após o juiz determinar sua pena.

Os dias e meses que antecederam essa reviravolta marcou nos brasileiros uma lenta e sofrida agonia. Todos sabíamos os rumos que o país estava tomando, bem como os rumos que o Supremo Tribunal estava dando ao país. E, como bons brasileiros esperamos a decisão. E ela veio. E trouxe o fim da agonia, implantando em seu lugar a desesperança.

O fim da agonia foi devastador: todos os tipos de criminosos podem sair das prisões e aprisionar os cidadãos de bem com suas ações predadoras.

Antes da votação do Supremo, vivíamos a agonia devido a não compreensão de como aqueles que são “Supremos” se arvoram a ir contra a vontade de uma nação, isto é, em soltar criminosos da prisão. Como se não bastasse, legislam em causa própria sempre alegando “que está na Constituição”. Ao que tudo indica, a Constituição precisa ser revisada, pois as brechas que encontram em suas entrelinhas são assustadoras e sempre são usadas pela minoria mais rica. Cabe dizer que é uma riqueza duvidosa, devidos aos escândalos de corrupção que seus “proprietários” estão envolvidos.

Oswaldo Montenegro venceu o festival de música, em 1980, com a música Agonia. Ela traduz o que nós brasileiros sentimos agora:

“Se fosse resolver, queria te dizer, foi minha agonia

Se eu tentasse entender, Talvez eu não conseguiria

E aqui no coração eu sei que vou morrer um pouco a cada dia…”

Assim é.

O supremo suprimiu as esperanças de quem de fato, acreditava na justiça.

Elza Gabaldi é professora de português para nativos e estrangeiros há 30 anos. Também leciona espanhol e escreve neste espaço sempre que pode. Acesse suas outras colunas clicando aqui.

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