A minha rua

Escrevi a primeira parte desta crônica em 13/02/2019. Termino em 21/03/2020.

Crônica: "Rua linda, linda rua, a minha rua. Nela, ao amanhecer todos passam depressa, buzinando, querendo que o que está na frente saia da frente."

Rua linda, linda rua, a minha rua. Nela, ao amanhecer todos passam depressa, buzinando, querendo que o que está na frente saia da frente. Com pressa, não vêem a beleza da minha rua.

Ao anoitecer ela se transforma: os que foram depressa, já voltaram depressa, já buzinaram, já xingaram os que estão na frente  e continuaram a acreditar que tinham preferência.

Depois do horário de pico, uma certa magia a envolve. Ainda passam muitos carros, mas passam também os pedestres, passa quem passeia com seus cachorros, as mães de mãos dadas com seus filhos pequenos que saíram das escolas, passam pais com os filhotes no cangote. E de lá de cima, do ombro dos pais, eles olham o mundo. Os velhinhos, em seu lento caminhar, os bebês empurrados por mães ou babás, passam todos na linda rua, a minha rua.

Na minha rua estou, nela passo, nela vou, nela volto, nela fico. É um pedaço do mundo onde meu mundo se concentra. Quando meu olhar se perde por minha rua, meus pensamentos vão  para longe, muito longe, até onde nem eu mesma sei, pois minha rua é o começo do que desejo conhecer.

Meus olhos, ao percorrê-la, vêem a beleza da minha rua. Eles sabem que nela entrei, nela vivi, nela sonhei, dela partirei e comigo a levarei. Tão linda rua, a minha rua.

Minha rua

Crônica: "Rua linda, linda rua, a minha rua. Nela, ao amanhecer todos passam depressa, buzinando, querendo que o que está na frente saia da frente."Minha rua continua linda, mas ao amanhecer vejo poucos carros e poucas pessoas por ela passar. Já não há tanta urgência em ir e em voltar. Há mais silêncio e menos buzinas. Os olhos, taciturnos, continuam presos a algo externo à beleza daminha rua.

No crepúsculo, poucos são os que voltam para casa porque poucos puderam ir. Os velhinhos desapareceram,pois são eles o grupo de maior risco. Com eles se foram os seus fiéis companheiros, os cãezinhos. As mães e as crianças já estão na minha rua. Já não há carrinhos de bebês ainda que o clima seja convidativo.

Tão vazia está a minha linda rua. Também eu pouco posso estar nela porque o momento é de recolhimento.

E, da janela de meu apartamento olha para minha rua vazia. De repente vejo apenas uma pessoa atravessá-la. É uma mulher jovem. Ela é moradora de rua. Mora em todas as ruas, não apenas na minha linda rua.

A minha linda rua agora é toda dela. Ela não demonstra medo, pois a rua é seu único abrigo.

Minha linda rua é tão solitária agora. E meus olhos esperam ver de novo, as pessoas indo e vindo na minha linda rua.

 

Elza Gabaldi é professora de português para nativos e estrangeiros há 30 anos. Também leciona espanhol e escreve neste espaço toda semana.

2 respostas para “A minha rua”

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